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Entenda porque não existe racismo reverso

Apesar de ser uma temática que vem sendo discutida pela sociedade e pelos acadêmicos há algum tempo, as questões relacionadas ao racismo ainda são palco de discussões e polêmicas. O tópico do “racismo reverso” traz muitas dúvidas e interpretações distorcidas  o que gera discussões acaloradas principalmente nas redes sociais. 

Questões históricas que ainda refletem ainda hoje na vida de pessoas negras

Muitas pessoas sustentam o argumento de igualdade entre todos, mas ao olharmos num passado próximo na história do Brasil e do mundo vemos que as desigualdades construídas séculos atrás ainda trazem efeitos na vida de pessoas negras.  

Para se ter uma noção, em 1837 (184 anos atrás) foi escrita a primeira Lei sobre a educação e em um dos artigos deixava claro a proibição do acesso à educação a pessoas negras: 

“São proibidos de frequentar as escolas públicas: Primeiro: pessoas que padecem de moléstias contagiosas. Segundo: os escravos e os pretos africanos, ainda que sejam livres ou libertos”

Muitos podem pensar “mas nessa época ainda não tinha sido escrita a Lei Áurea”. Pois bem, a Lei Áurea só foi aprovada por conta de pressões externas como é o caso da Inglaterra e foi daí que surgiu o termo popular “para Inglês ver”. O Brasil foi o último país ocidental a “dar um fim” à escravidão. Além disso, a “liberdade” concedida não dava possibilidade dos negros terem uma vida digna, uma vez que não tinham moradia e todo o resto que seria necessário para um ser humano sobreviver. 

Em 1890 (há 131 anos) – 2 anos após a abolição da escravatura – surge uma Lei que decretava que as pessoas que perabulancem pela rua, sem trabalho ou sem residência comprovada seriam presos, além de pessoas que praticassem capoeira ou que tivessem objetos relacionados (como portar um berimbau). Adivinha quem eram as pessoas que não tinham moradia, emprego e tinham que perambular pelas ruas? Com certeza não preciso dizer a resposta. 

Muitos outros acontecimentos históricos e Leis que impediram os negros brasileiros de ter a possibilidade de terem uma vida digna poderiam ser citados. A exclusão social por conta da raça (negros) e o favorecimento de outra (brancos) era um projeto sustentado pelas Leis brasileiras e os bisávos de muitas pessoas vivas hoje foram severamente excluídos por conta da cor de suas peles, enquanto os bisávos de outros, tiveram possibilidades de existir diferentes mesmo que com pouca condição financeira.  

Entendendo o “racismo reverso” e o porquê ele não é possível

Esse termo é recente e traz a ideia de que um grupo que foi historicamente dominante (que detinham poder e privilégios) sofre discriminação e preconceitos por grupo que foram dominados e excluídos (leia-se como considerados menos humanos). Nesse sentido, que os negros ocupam agora o papel de dominadores de pessoas brancas. 

No Brasil, o termo se tornou presente no vocabulário popular quando as cotas raciais foram implantadas na área da educação superior, ambiente este em que predominavam as pessoas brancas – e ainda predominam. 

Se formos pensar no sentido percentual, são 20% das vagas para pessoas negras e 80% para pessoas brancas, o que torna a fundamentação de que se estaria dando privilégio aos negros inválidos. Se 20% das vagas fossem destinadas a pessoas brancas e 80% para negros alguma argumentação sobre racismo reverso poderia existir e mesmo assim seria difícil de defender olhando toda a história…

Essas ações têm como objetivo reparar historicamente e de forma parcial os danos causados a pessoas negras e a seus descendentes ao longo de 400 anos de exclusão e tratamento desumano, tratamento esse que era sustentado pelas Leis brasileiras.

Quando vermos pessoas brancas sendo a minoria nas faculdades renomadas, minoria em cargos de poder, perdendo oportunidade de empregos por conta da textura do seu cabelo e tendo que encrespar para serem aceitas e se sentirem desejadas, quando nas mídias e publicidade os brancos forem contados nos dedos das mãos, quando os brancos forem a maioria nos presídios, quando mulheres brancas ouvirem “até que você é bonita para uma branca” –  “que branca bonita!”, quando brancos forem automaticamente associados à pobreza e a falta de higiene, e principalmente, quando brancos forem tratados de formas que nem animais são tratados por 400 anos em solo brasileiro, aí sim poderíamos começar a pensar em racismo reverso.

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